O impacto do confinamento em crianças com cancro no Myanmar

O processo de confinamento no Myanmar está a ter um impacto devastador. Desde Abril que o diagnóstico de novos casos foi suspenso. Durante dois meses, apenas os casos considerados urgentes podiam viajar para o hospital em Yangon. O resultado foi que o número de admissões na unidade pediátrica de oncologia passou de 70 crianças para uma média de 10.  

A chefe da unidade, Dr Aye Khaing conseguiu em alguns casos enviar os tratamentos de quimioterapia para hospitais locais para que as crianças pudessem continuar o tratamento. Apesar destes hospitais não terem unidades oncológicas, todos colaboram para permitir que o tratamento não fosse interrompido.

Com o fecho das fronteiras no Myanmar e a crise internacional, neste momento começam a faltar alguns dos medicamentos utilizados em determinados protocolos de quimioterapia. A equipa local está a conseguir trazer algumas doses através da fronteira com a Tailândia, mas a situação esta longe de ser ideal.

O Myanmar começa agora a levantar restrições mas as fronteiras continuam fechadas e por isso estamos impedidos de lá entrar.

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Kyine

Durante a nossa visita em Março, conhecemos a Kyine, uma menina de oito anos que vive na região de Taunggyi, uma região que fica a 18 horas de distância do hospital pediátrico de Yangon. 

Em 2018, o olho esquerdo da Kyine começou a apresentar manchas brancas. O hospital local deu-lhe gotas e mandou-a para casa. Um mês depois, o globo ocular deslocou-se para fora da cavidade ocular. O hospital local tratou esta menina durante dois anos sem numa considerar que se podia tratar de um retinoblastoma, um cancro que tem uma taxa de cura de 95% na Europa, mas que mata muitas crianças em países em desenvolvimento. 

Apenas dois anos mais tarde, a família foi referida para o Hospital Pediátrico de Yangon. Kyine recebeu uma prótese ocular. Infelizmente o tumor é agora cerebral. No Myanmar, tumores cerebrais tem uma taxa de cura muito reduzida devido à falta de cirurgiões especialistas e técnicos de radioterapia. Enquanto a Kyine estiver em tratamento, continuará a ser apoiada pelo nosso projeto de transporte em parceria com a organização Word Child Cancer. 

Atualmente estamos limitados no que podemos fazer, mas estamos prontos para regressar ao Myanmar assim que tivermos permissão e condições de segurança para a nossa equipa e a da nossa organização parceira World Child Cancer.

Fernando Pinho